Emilly Behnke e Luci Ribeiro
BRASÍLIA - Pressionado a dar
respostas rápidas e efetivas à crise econômica, social e sanitária em que o
País está mergulhado, o presidente Jair Bolsonaro passou
boa parte da conversa que teve hoje com apoiadores apresentando justificativas
para o atraso de seu governo na compra de vacinas contra a covid-19.
Bolsonaro disse até que a questão da
pandemia no Brasil virou "uma guerra contra o presidente" e desafiou
os seus simpatizantes a apontar um só país no mundo que esteja "tratando
bem" o combate à doença. "Um dos raros países no mundo onde querem
derrubar o presidente é aqui", disse.
© Dida Sampaio/Estadão - 10/3/2021 Presidente Jair Bolsonaro em
cerimônia no Palácio do Planalto.
"A gente pergunta aí, qual país
do mundo que está tratando bem a questão do covid? Aponte um. Todo local está
morrendo gente. Agora, aqui virou uma guerra contra o presidente", afirmou
a apoiadores na saída do Palácio da Alvorada nesta manhã. Segundo o "Our
World in Data", ligado à Universidade de Oxford, atualmente o Brasil ocupa
a 11ª posição em número absoluto de vacinados e o 89º lugar, se levado em
consideração o porcentual da população que já foi vacinada. O Brasil já registra
mais de 285 mil mortes por covid-19.
Bolsonaro disse ter perdido um tio no
mês passado, mas, na verdade, era só uma informação para simular uma situação e
estimular a pergunta que, segundo ele, já virou rotina. "Foi de
covid?", questionou um simpatizante, confirmando a hipótese do presidente.
Bolsonaro, então, emendou dizendo que ultimamente "parece que só se morre
de covid". Em declarações anteriores, o presidente já questionou e colocou
em dúvida o número de mortes pelo novo coronavírus.
"Os hospitais estão com 90% das
UTIs ocupadas. Agora, o que a gente precisa fazer: quantos são de covid e
quantos são de outras enfermidades?", questionou, induzindo os presentes a
acreditarem que isso não é feito. As secretarias de Saúde dos Estados divulgam
diariamente dados específicos de covid-19, com taxas de ocupação relativas
somente aos casos do novo coronavírus, contrariando a insinuação do presidente
de que os hospitais misturam tudo para inflar os números da covid.
O presidente citou também haver falta
de imunizantes para o governo comprar. "Quando eu digo me apresente um
país onde está dando certo o combate a covid: não tem. Esses caras que querem
me derrubar o que fariam no meu lugar? 'Ah comprar vacina'. Onde é que tem
vacina para vender? Onde é que tem?", indagou.
Em mais uma justificativa, sem
mencionar o nome do imunizante nem dos laboratórios, Bolsonaro desacreditou a
importância das vacinas e fez referência à suspensão em países europeus do uso
da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o
laboratório AstraZeneca. Alemanha, França, Espanha, Portugal e Itália
suspenderam por precaução a aplicação após relatos de casos de trombose,
relação que não está comprovada com o uso do imunizante.
"Tem uma vacina que tem uns dez
países que não vão aplicar mais, estão sabendo, né? Aí tem um cara que ligou
para mim, um cara inteligente, "por que você não compra essa
vacina"?. Cara, se os países não estão aplicando é no mínimo um lote
suspeito. 'Ah, mas não tem problema'. A que ponto chegou a cabeça de algumas
pessoas."
O presidente também citou, sem dizer
o nome, uma empresa produtora de vacinas com 20 milhões de doses disponíveis,
mas sem ainda ter entrado com a documentação para ter o registro da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Agora, como o mundo está
precisando de vacinas, por que outros países não compram esses 20 milhões de
doses? Por que querem vender para nós, sem certificação, sem nada? Isso é
lobby? Comigo não vão fazer", declarou o presidente.
Tentando, mais uma vez, justificar o
atraso do governo para negociar e adquirir imunizantes, Bolsonaro disse que em
2020 tentou comprar, mas sem sucesso: "No ano passado quando a gente
queria comprar a vacina, eu (disse) pago depois que passar pela Anvisa. Ninguém
queria vender". Ele afirmou ainda que caso tivesse comprado vacinas que
eventualmente não tivessem o registro aprovado pela Anvisa poderia se acusado
de "negociata".
O Brasil começou com muito atraso a
negociar vacinas. A vacinação começou este ano apenas com os imunizantes
Coronavac e da Astrazeneca, mas em quantidade insuficiente para vacinação em
grande escala. O governo federal corre para recuperar o tempo perdido e
conseguir firmar novos contratos que garantam mais doses ao País.
Na conversa com apoiadores, Bolsonaro
disse que "lamenta qualquer morte". Ele destacou o nível de
desemprego e que "famílias pobres ficaram miseráveis", além de pioras
na educação. "Estamos nos transformando em um país de pobres aqui",
disse, ao criticar novamente o fechamento do comércio e o lockdown.
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