Dirigentes europeus falam de mudança climática e pandemia em um encontro virtual com Xi Jinping
A França e a Alemanha procuram um caminho europeu na guerra fria entre Washington e Pequim. O presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, se reuniram na segunda-feira por videoconferência com o chefe de Estado chinês, Xi Jinping, para retomar a cooperação após meses de desencontros.
“O presidente da República e a chanceler da República Federal da Alemanha”, afirmou o comunicado do Eliseu, “compartilham as graves preocupações em relação à situação dos direitos humanos na China e lembraram suas exigências sobre a luta contra o trabalho forçado”.
É somente uma frase, e a última, de um texto que retoma as questões em que a cooperação entre as duas partes pode se desenvolver: da mudança climática, em que a China é um sócio imprescindível, aos esforços para restabelecer as conexões aéreas após um ano e meio de pandemia.
Na cúpula do G7 no Reino Unido, em junho, as velhas potências industriais pediram uma investigação na China sobre as origens do vírus da covid-19; exigiram de Pequim respeito aos direitos humanos e às liberdades em Xinjiang e Hong-Kong; e se declararam “profundamente preocupadas” pelas “tentativas unilaterais de alterar o status quo e aumentar as tensões”. Dias depois, os líderes da OTAN afirmaram que as “ambições declaradas da China e seu comportamento resolutivo apresentam desafios sistêmicos à ordem internacional baseada nas regras e em áreas importantes à segurança da Aliança”.
Na época, a relação entre os 27 e a segunda economia do mundo já havia estremecido. Em março, Bruxelas havia imposto suas primeiras sanções à China desde o embargo de armas após a matança de Tiananmen em 1989. Em punição pelo que considera graves violações dos direitos humanos por parte de Pequim contra a minoria uigur na região de Xinjiang, a UE adicionou à sua lista restrita quatro dirigentes e uma entidade chineses.
O Governo de Xi Jinping respondeu imediatamente e com o tom mais alto, ao sancionar 10 indivíduos e quatro entidades. E em maio, o Parlamento Europeu congelou a ratificação do acordo de investimentos que os dois blocos fecharam cinco meses antes, em dezembro de 2020, após sete anos de árduas negociações.
Fomentar a cooperação
Na videoconferência de segunda-feira, segundo a rede de televisão CCTV, Xi Jinping pediu na reunião que Macron e Merkel desempenhem um protagonismo maior em questões internacionais e demonstrem “independência estratégica”. Na linguagem diplomática de Pequim, significa tomar decisões de maneira independente de Washington.
Onde a Europa se colocará em um mundo dominado por duas potências em tensão, os EUA e a China? Existe um caminho intermediário? Ou os europeus devem agir em bloco com seu aliado ocidental? Macron, em um colóquio no laboratório de ideias norte-americano Atlantic Council, em fevereiro, desenhou dois possíveis cenários, em sua opinião, e ambos negativos. “No primeiro”, disse, “nos encontraríamos em uma situação em que todos nos unimos contra a China”. Segundo o presidente francês, o alinhamento entre os EUA e a UE diante da China “seria contraproducente”, porque levaria a China a agir por sua conta e diminuir a cooperação.
Mas Macron também refutou a equidistância da Europa entre as duas potências. “Não faz sentido, porque de maneira nenhuma somos um rival sistêmico dos EUA. Compartilhamos os mesmos valores, a mesma história. E enfrentamos desafios às nossas democracias”, afirmou.
PEQUIM SOBE O TOM NO CENÁRIO INTERNACIONAL
Pequim adotou um discurso cada vez mais assertivo no cenário internacional, com um aumento de tom em relação ao começo da pandemia. Em 1º de julho, pelo centenário do Partido Comunista da China, o presidente Xi Jinping fez um discurso de marcado viés nacionalista na porta de Tiananmen, onde Mao Tsé-tung proclamou o nascimento da República Popular em 1949. Na ocasião, o presidente chinês alertou que os países que tentarem dominar o seu “se chocariam de maneira sangrenta contra um muro de aço construído com a carne e o sangue de 1,4 bilhão de chineses”.
Seu ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, repetiu as palavras de seu presidente neste fim de semana, ao alertar em um fórum internacional em Pequim que “nenhum indivíduo e força deveriam subestimar a determinação e a capacidade do povo chinês para defender a soberania, a segurança e o desenvolvimento desse país”. “A China já não é o país de um século atrás”, frisou.
No mesmo fórum, o embaixador da UE em Pequim, Nicolas Chapuis, lamentou que a atitude da China já não é somente assertiva, e sim começa a se tornar agressiva, “para nosso pesar”. “O multilateralismo efetivo implica que todas as nações, grandes e pequenas, sentem-se à mesma mesa com os mesmos direitos, e que, ainda mais importante, aceitem as opiniões de outros de maneira tolerante e construtiva”, acrescentou o representante europeu.
Fonte:https://brasil.elpais.com/
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