Bolsonaro no Palácio do Planalto
nesta quinta, 2. EFE/ Joedson AlvesJOE?DSON ALVES / EFE
Uma carta assinada por ex-presidentes, parlamentares e ministros
de 26 países mostra que a preocupação com as manifestações deste 7 de setembro
já ultrapassou as fronteiras do Brasil. Insufladas pelo presidente Jair
Bolsonaro, as manifestações, que devem ocorrer principalmente em Brasília e São
Paulo, são vistas como mais um gesto de “insurreição” que coloca em perigo a
democracia do Brasil. “Neste momento, o presidente Bolsonaro e seus aliados —
incluindo grupos supremacistas brancos, policiais militares e agentes oficiais
de todos os níveis do Governo —estão preparando uma marcha nacional contra a
Suprema Corte e o Congresso, gerando medo de um golpe contra a terceira maior
democracia do mundo”, diz a carta, assinada por nomes como o ex-presidente da
Colômbia, Ernesto Samper, o ex-presidente da Espanha, José Luis Zapatero, além
dos ex-mandatários do Paraguai, Fernando Lugo, e do Equador, Rafael Correa.
“O presidente Bolsonaro aumentou a
escalada de ataques às instituições democráticas do Brasil nas últimas
semanas”, diz a carta assinada também por nomes com o Nobel da Paz argentino de
1980 Adolfo Esquivel, o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis, e o
filósofo Noam Chomski. O grupo cita o alerta de alguns membros do Congresso
brasileiro sobre a tentativa de modelar este 7 de setembro para ser uma
insurreição similar à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, no último 6 de
janeiro, por seguidores do presidente derrotado Donald Trump.
A carta chega ao mesmo tempo em que o
presidente Jair Bolsonaro publicou uma mensagem falando em “paz e harmonia” durante as manifestações
insufladas por ele para esta terça. O recado do presidente chegou antes das 7
da manhã desta segunda, em meio às preocupações crescentes com a agressividade
que possa vir a se instalar nas manifestações que estão mobilizando as redes
bolsonaristas. “Na próxima terça-feira, comemoraremos o nosso 199° aniversário
da independência do Brasil. Independência está associada à LIBERDADE. Assim
sendo, também no escopo dos incisivos XV e XVI, do artigo 5° da nossa CF
[Constituição Federal], a população brasileira tem o direito, caso queira, de
ir às ruas e participar dessa nossa data magna EM PAZ e HARMONIA”.
A mensagem de Bolsonaro foi dada
depois que seguidores do presidente soltaram vídeos entusiasmados, alguns
interpretados como uma provocação para estabelecer conflitos, especialmente em
Brasília, um dos pontos centrais do encontro. Neste domingo, o bolsonarista
Jackson Vilar gravou um vídeo sugerindo que “o pau vai cantar em Brasília”,
lembrando que indígenas estão acampados na capital para acompanhar o julgamento
do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). “O povo da direita, tenho
falado com alguns líderes aí, os caras tão acesos. Tá igual pólvora. Se riscar
um pavio, se um índio desse se meter a besta, Brasília vai ‘desindializar’”,
ironizou, falando em ‘derramamento de sangue’.
O vídeo provocou reações e Vilar
gravou outro neste domingo para negar o que dissera antes. “Eu não falei que
era para ir para Brasília para derramar sangue de indígena não”, disse Vilar,
que admitiu “que os ânimos estão nervosos”. Outros seguidores replicam imagens
de Bolsonaro a cavalo em vestes similares a de Dom Pedro I quando declarou
independência do Brasil de Portugal, em 1822. Também Zé Trovão, o caminhoneiro
que vem estimulando as manifestações contra o Supremo, gravou vídeo
avisando que “o povo brasileiro” inicia neste dia 7 o movimento
em prol da sua liberdade. “Começa no dia 7 mas só tem por fim quando houver o
impeachment dos 11 ministros do STF e a contagem pública dos votos. Caso isso
não ocorra o Brasil inteiro ficará parado o tempo que for necessário”, diz
Trovão, que teve a prisão solicitada pela Procuradoria Geral da República, e
acatada pelo ministro Alexandre de Moraes, no âmbito de uma investigação sobre
a organização de manifestações violentas durante os atos do dia 7.
De camiseta e chapéu de cowboy, o
caminhoneiro sugere no vídeo que os policiais federais não cumpram a medida de
prisão determinada pelo ministro da Corte. “Cruze seus braços para que
mostremos a força do povo brasileiro. Entregue a nós o trabalho que vocês se
propuseram a fazer”, diz ele.
Há a expectativa sobre a participação
de policiais militares que apoiam o presidente durante as marchas convocadas
para esta terça. O papel dos PMs tem mobilizado os ministros da Corte e
governadores, que prometem atuar para desarmar essa bomba relógio. A única
certeza até o momento é que não há certeza de nada para o evento deste dia 7.
A tensão cresce enquanto a
credibilidade do Governo evapora junto ao mercado financeiro. Nesta
terça, a pesquisa Focus do Banco Central, que reúne as projeções
de indicadores econômicos de mais de 100 instituições financeiras, aponta para
uma revisão para baixo do PIB deste ano – de 5,22% para 5,15% — e de 2022 — de
2%, para 1,93%. A inflação também é outro indicador revisto, assim como o
câmbio, ambos para cima. A projeção do Focus é de um IPCA de 7,58% para este
ano, contra 7,27% na semana passada. O dólar, por sua vez, passou de 5,15 reais
há uma semana para 5,17 reais.
As turbulências na política têm
contaminado cada vez mais a economia, especialmente com as repercussões no
exterior. Representantes diplomáticos da Europa e Estados Unidos ouvidos pelo
EL PAÍS não escondem a intranquilidade com os ataques à democracia promovidos
pelo Governo Bolsonaro e suas consequências para os assuntos mais importantes
que o país deveria estar focando neste momento.
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