Rubens Figueiredo*
horas atrás
Galões de nitroglicerina pura chacoalhando na
carroceria de um caminhão sem amortecedores têm menos potencial explosivo do
que isso. A comissão nem foi instalada, mas os movimentos de aquecimento
prometem. Bolsonaro já mostrou que vai para o confronto e saiu
em defesa do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello,
aquele do “é simples assim: um manda, outro obedece”.
Outra pitada de gasolina na fogueira foi a curiosa
entrevista do ex-secretário de Comunicação do governo federal Fábio Wajngarten,
atestando “incompetência e ineficiência” da área da Saúde na compra
de vacinas. Wajngarten isentou de qualquer responsabilidade o presidente da
República, tentando colocar a culpa apenas no ministro Pazuello e seus
colaboradores. Mas se um faz o que o outro manda...
CPIs são situações nas quais se medem forças; são
processos mais políticos que jurídicos. Buscar a verdade é um instrumento, não
o objetivo. São ajustes de contas entre o Legislativo – parlamentares, blocos,
partidos – e o Executivo. É sabido que Bolsonaro vive uma relação tensa com o
Congresso e a maioria esmagadora de seus ministros não foi indicada pelos
partidos. O Senado, sem nenhum titular entre as pastas, é um “pote até aqui de mágoas”.
Vale lembrar que até Dilma Rousseff,
que não chegava exatamente a ser um primor em termos de habilidade política, em
certo momento reservou dois ministérios para cada casa Legislativa. Mesmo
assim, deu no que deu.
CPIs existem para dar voz às minorias do
Parlamento. Tanto que é necessário apenas um terço de assinaturas (no caso do
Senado, 27) para abrir os trabalhos. Um governo forte se blinda, garantindo a
maioria dos integrantes da comissão e a titularidade dos cargos estratégicos,
como a presidência e a relatoria. Bolsonaro não tem maioria (perde de 7 x 4) e
os protagonistas do processo serão senadores independentes. De previsível, só o
comportamento imprevisível de Bolsonaro.
*Rubens Figueiredo é cientista
político pela USP
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