Po Juliana Lima, TV Globo — Brasília
03/11/2022
Protesto promovido pela Ação da Cidadania contra a fome no Brasil. — Foto: Reprodução/Redes Sociais
O agora presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou no discurso de vitória neste domingo (30) que o combate à fome e à miséria é o
"compromisso número 1" do governo.
"Nosso compromisso mais urgente é acabar outra vez com a fome.
Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças
neste país não tenham o que comer", disse Lula.
Levantamento divulgado em junho deste ano mostrou que o Brasil soma
atualmente cerca de 33,1 milhões de pessoas sem ter o que comer diariamente, quase o dobro do contingente em situação de fome estimado em 2020.
Os dados foram compilados pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança
Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela
Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e
Nutricional (Rede PENSSAN).
Frases de Lula no discurso da vitória — Foto: Vitoria Romero/g1
Para especialistas ouvidos pelo g1, os números são reflexos da queda nos
repasses de verbas do governo para as ações de segurança alimentar, além do esvaziamento da rede de proteção social.
O presidente do grupo de debate sobre transferência de renda Rede Brasileira de Renda Mínima, Leandro Ferreira, disse que o país enfrenta um desmonte da rede
de proteção social ao mesmo tempo em que "houve o aumento da própria
pobreza, da própria desigualdade".
"Na saída da pandemia, as pessoas não recuperaram o padrão de renda que
tinham antes, por exemplo, por meio do mercado de trabalho. É um efeito
que estamos sentindo por conta de uma dupla situação: o desmonte das políticas de proteção social e o aumento dos níveis de vulnerabilidade da população", avaliou.
Para a pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas Gabriela Lotta, nas
últimas décadas houve um esforço para se construir uma coordenação
federativa que conseguisse conduzir o enfrentamento à desigualdade.
No entanto, de acordo com Lotta, "o atual governo federal abriu mão
dessa coordenação nacional" e, assim, "perdeu o papel de protagonista".
"O resultado é a volta da desigualdade e o aumento da desproteção
social da população brasileira."
Tereza Campello, ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome de
2011 a 2016, afirmou que, para endereçar a questão da fome, é preciso uma
ação coordenada.
"É preciso entender a necessidade de um conjunto de medidas que viabilize não
só o acesso à renda, mas o acesso à alimentação de qualidade, o acesso
das crianças à alimentação na escola, do acompanhamento de saúde para ver
se o desenvolvimento das crianças está adequado [...] A fome precisa
ser enfrentada
com uma estratégia multidimensional", completou Campelo.
Entre as iniciativas prejudicadas pela descontinuidade ou falta de recursos estão
o Conselho de Segurança Alimentar (Consea), o Plano Nacional de
Segurança Alimentar, o programa Alimenta Brasil e a merenda escolar
(entenda mais abaixo como cada um funciona).
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